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Síndrome das pernas inquietas (doença de Willis-Ekbom)

Atualizado: 12 de nov. de 2018


Epidemiologia

Muito comum, é uma condição que afeta cerca de 5-15% da população. A prevalência aumenta com a idade, mas a idade de início é comumente antes dos 30 anos. Considera-se que é uma doença gradualmente progressiva. Por este motivo, a o diagnóstico é muitas vezes feito somente na meia-idade.


Diagnóstico

O sintoma principal que caracteriza a condição é a urgência de mover os membros frequentemente acompanhada por sensações desconfortáveis. Os sintomas são piores (ou exclusivos) durante o repouso ou durante períodos de inatividade, e são parcialmente ou totalmente aliviados pelo movimento. Há uma importante relação dos sintomas com o ritmo circadiano: devem ser piores à noite ou exclusivos à noite.


O incômodo sensorial e a urgência provocam distúrbios do sono: dificuldade para dormir, menos horas de sono total, maior número de despertares e fragmentação do sono, além de movimentos periódicos dos membros durante o sono.


Critérios diagnósticos da síndrome das pernas inquietas, doença de Willis-Ekbom, Quinta Revisão


Os critérios diagnósticos foram revisados recentemente (Allen et al., 2014):


(1) Um desejo de mover as pernas geralmente, mas nem sempre, acompanhado ou sentido como causado por sensações desconfortáveis ​​e desagradáveis ​​nas pernas;


 (2) O desejo de mover as pernas e quaisquer sensações desagradáveis ​​acompanhantes começam ou pioram durante os períodos de descanso ou inatividade, como quando deitado ou sentado;


 (3) O desejo de mover as pernas e quaisquer sensações desagradáveis ​​acompanhantes são parcialmente ou totalmente aliviados pelo movimento, como andar ou alongar, pelo menos enquanto esta atividade persistir;  


(4) O desejo de mover as pernas e quaisquer sensações desagradáveis ​​acompanhantes durante o descanso ou a inatividade só ocorrem à noite ou ou são piores à noite;  


(5) As ocorrências das características acima não são contabilizadas apenas como sintomas primários para outra condição médica ou comportamental (por exemplo, mialgia, estase venosa, edema da perna, artrite, cãibras nas pernas, desconforto posicional, toque habitual no pé).


Em resumo, houve as seguintes contribuições/mudanças nos critérios (Allen et al, 2014):


i) adição de um quinto critério essencial, diagnóstico diferencial, para melhorar a especificidade exigindo que os sintomas de SPI não sejam confundidos com outras doença com sintomas semelhantes ; (ii) adição de um especificador para delinear SPI clinicamente significante; (iii) adição de especificadores de curso para classificar a doença como persistente-crônica ou intermitente; e (iv) fusão dos critérios diagnósticos pediátricos com os critérios feitos para adultos.


Etiologia e fisiopatologia

A maior parte dos casos é hereditária, com origem autossômica dominante. São formas secundárias aquelas causados por deficiência de ferro, gravidez, doença renal terminal, medicações (antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos de recaptação de serotonina, inibidores da monoamino oxidase, lítio, anti-histamínicos, antagonistas de dopamina), e neuropatia periférica. A cafeína sabidamente potencializa os sintomas.

Em virtude da grande associação com deficiência de ferro, é sempre indicada avaliação complementar com hemograma, ferritina sérica.


Medidas gerais de tratamento

A primeira medida é a descontinuação dos fatores precipitantes, como a cafeína e os medicamentos listados acima. O tratamento não farmacológico pode considerar medidas como: padronização do horário de dormir e acordar, banho quente ou frio, atrasar o horário de início do sono, reduza exercícios noturnos e consumo de álcool, vibração da perna e massoterapia.


A decisão a respeito de realização de tratamento farmacológico deve levar em consideração a idade do paciente, a frequência do sintoma e o impacto no seu cotidiano, uma vez que o tratamento é sintomático e não curativo. O tratamento pode ser usado de maneira contínua ou intermitente, a dependera freqüência dos sintomas. Um dos princípios clínicos do tratamento é iniciar com doses baixas e manter a menor dose clinicamente eficaz, monitorando subjetivamente a intensidade dos sintomas. 


Tratamento farmacológico

Sulfato ferroso 325 mg 3x/dia pode ser administrado, em conjunto com vitamina C, para pacientes com deficiência de ferro (ferritina < 75 mcg/dL). O benefício pode demorar várias semanas e o sulfato ferroso pode ser pouco tolerado devido a efeitos colaterais gastrointestinais, como constipação e dispepsia.Pode ser usada formulação endovenosa de reposição de ferro. Sugere-se que o nível sérico da ferritina seja acompanhado trimestralmente.


Agentes dopaminérgicos, como a levodopa e os agonistas dopaminérgicos, podem ser usados, no horário de dormir. Deve ter muita cautela com o seu uso, especialmente em virtude de sintomas de "aumentação" (augmentation), desencadeados por doses crescentes de agentes dopaminérgicos, como pramipexol, ropinirol, rotigotina ou levodopa.


Augmentation


Trata-se de um fenômeno desencadeado pelo tratamento com agentes dopaminérgicos, em que ocorre uma combinação de início mais precoce dos sintomas, aumento da gravidade e envolvimento de outros membros; com mudança de horário da ocorrência dos sintomas ( que passam a ocorrer antes da hora planejada para dormir, ou seja, no começo da noite ou durante o dia).


Uso de anticonvulsivantes

Os medicamentos gabapentina e pregabalina, bloqueadores de canal de cálcio do tipo alfa-2-delta, tem ganhado espaço no armamentário farmacológico da SPI, em virtude de seu baixo potencial de desenvolver augmentation. Eventualmente podem ser usados opióides, como a metadona, em casos graves e refratários.


Consenso Brasileiro da Academia Brasileira de Neurologia




Referências


  1. Allen RP, Picchietti DL, Garcia-Borreguero D, et al. Restless legs syndrome/Willis-Ekbom disease diagnostic criteria: updated International Restless Legs Syndrome Study Group (IRLSSG) consensus criteria--history, rationale, description, and significance. Sleep Med. 2014;15(8):860-73.

  2. Silber MH, Becker PM, Earley C, Garcia-Borreguero D, Ondo WG, Medical Advisory Board of the Willis-Ekbom Disease Foundation. Willis-Ekbom Disease Foundation revised consensus statement on the management of restless legs syndrome. Mayo Clin Proc. 2013;88(9):977-86.

  3. Pratt DO. Restless Legs Syndrome/Willis-Ekbom Disease and Periodic Limb Movements: A Comprehensive Review of Epidemiology, Pathophysiology, Diagnosis and Treatment Considerations. Curr Rheumatol Rev. 2016;12(2):91-112.

  4. Fröhlich AC, Eckeli AL, Bacelar A, et al. Brazilian consensus on guidelines for diagnosis and treatment for restless legs syndrome. Arq Neuropsiquiatr. 2015;73(3):260-80.


 


 



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