Apresento um resumo sintetizado do estudo intitulado "Parkinson's Disease-Cognitive Rating Scale (PD-CRS): Normative Data and Mild Cognitive Impairment Assessment in Brazil", publicado na revista Movement Disorders Clinical Practice em fevereiro de 2023. Este estudo visa fomentar a aplicação da escala PD-CRS na avaliação cognitiva de pacientes com Doença de Parkinson no contexto brasileiro.
Citação Bibliográfica:
Brandão PRP, Pereira DA, Grippe TC, et al. Parkinson's Disease-Cognitive Rating Scale (PD-CRS): Normative Data and Mild Cognitive Impairment Assessment in Brazil. Mov Disord Clin Pract. 2023;10(3):452-465. Publicado em 25 de Fevereiro de 2023. DOI: 10.1002/mdc3.13657
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Este estudo teve como objetivo examinar as propriedades psicométricas da Escala de Avaliação Cognitiva da Doença de Parkinson (PD-CRS) em duas amostras brasileiras distintas. A primeira é uma amostra normativa com indivíduos sem distúrbios cognitivos ou neurodegenerativos de diversas regiões geográficas brasileiras, e a segunda é uma amostra clínica com pacientes de DP de um único centro em Brasília, DF, Brasil. O estudo explorou mais a fundo o constructo cognitivo examinado por este instrumento, usando modelagem de múltiplos indicadores e múltiplas causas (MIMIC), e considerando o efeito de variáveis demográficas. Também foram exploradas equações de regressão múltipla para determinar os dados normativos do PD-CRS, levando em conta idade e nível de educação. Na amostra clínica com DP, o objetivo específico era determinar seu poder em distinguir entre PD-MCI e PD com cognição intacta (PD-IC).
Estudo com amostra normativa brasileira
No estudo 1, os pesquisadores avaliaram as propriedades psicométricas e os dados normativos de uma versão da Escala de Avaliação Cognitiva da Doença de Parkinson (PD-CRS), traduzida e adaptada para o português brasileiro, em uma amostra de adultos sem comprometimento cognitivo. O estudo foi realizado em mais de 50 municípios brasileiros, englobando cinco diferentes regiões e envolvendo a supervisão de neuropsicólogos seniores. Os participantes foram recrutados da comunidade, devendo ser alfabetizados, falantes nativos de português brasileiro e com mais de 20 anos de idade. Foram excluídos sujeitos com declínio cognitivo significativo, distúrbios neurológicos pré-diagnosticados, ou outros critérios que pudessem interferir nos resultados.
Para avaliar a confiabilidade e validade da versão brasileira do PD-CRS, os pesquisadores seguiram um processo rigoroso de tradução, adaptação, retrotradução e análise psicométrica. A amostra normativa foi submetida a uma bateria de testes cognitivos, incluindo avaliações de memória e função executiva, para corroborar a validade convergente do instrumento. Sintomas psiquiátricos foram também avaliados através da Escala de Ansiedade e Depressão Hospitalar (HADS). O procedimento foi desenhado para avaliar a validade com base em medidas externas.
Estudo com amostra clínica de pacientes com doença de Parkinson
O estudo 2 focou na avaliação de pacientes com Doença de Parkinson (DP) em Brasília, Brasil, usando um método de amostragem misto. Os pacientes foram rigorosamente avaliados com uma série de escalas e testes clínicos e neuropsicológicos, incluindo a MDS-UPDRS e o Inventário de Depressão de Beck. Estes dados foram utilizados para categorizar os pacientes em dois grupos distintos: aqueles com integridade cognitiva (PD-IC) e aqueles com comprometimento cognitivo leve (PD-MCI), com base em critérios da Força-Tarefa MDS.
A análise estatística dos dados incluiu a avaliação do poder discriminativo de escalas como PD-CRS e MoCA, usando a área sob a curva (AUC) de Características de Operação do Receptor (ROC). Foram calculados parâmetros de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo, e estabelecidas correlações parciais entre os escores brutos do PD-CRS e a bateria neuropsicológica completa
Resultados do estudo 1, com a amostra normativa
O Estudo 1 avaliou as características psicométricas da Escala de Avaliação Cognitiva da Doença de Parkinson (PD-CRS) em uma amostra normativa. Com um total de 714 participantes, a amostra apresentou uma ampla variabilidade em termos de idade e nível educacional, o que confere robustez aos resultados e aumenta a generalizabilidade das normas baseadas em regressão. A análise revelou uma consistência interna adequada, com um valor de ω de McDonald de 0,83, e uma correlação entre os itens que variou de 0,41 (desenho do relógio) a 0,60 (memória imediata). Não foi observado nenhum efeito de piso para qualquer componente da PD-CRS, embora um efeito de teto tenha sido identificado para atenção sustentada, desenho do relógio e cópia do relógio.
Além disso, o estudo realizou múltiplas regressões para ajustar as características demográficas da amostra. A idade e o nível educacional, quando considerados em conjunto, explicaram 42% da variância do escore PD-CRS. Os dados foram posteriormente segmentados em sextis com base na idade e tercis com base no nível de educação. As tabelas com as regressões podem ser obtidas no texto original.
A validade da PD-CRS foi substanciada por diversas métricas. O modelo MIMIC unidimensional demonstrou um bom ajuste, corroborado por índices como o índice de ajuste comparativo (0,957) e o índice Tucker-Lewis (0,943), e apontou para um fator cognitivo global latente que explicava a variabilidade dos escores. Além disso, o escore total do PD-CRS mostrou correlações significativas com várias medidas externas, incluindo TMT-A e TMT-B, fortalecendo assim sua validade externa.
Resultados do estudo 2
No estudo realizado de março de 2019 a agosto de 2021, 69 pacientes com provável doença de Parkinson (PD) foram incluídos na amostra final, após exclusão de casos com demência, acidente vascular cerebral menor e outros critérios. Destes, 25 pacientes foram classificados como tendo comprometimento cognitivo leve associado à PD (PD-MCI), enquanto 44 foram categorizados como cognitivamente intactos (PD-IC). Diferenças estatisticamente significativas foram observadas em relação à idade e ao nível de educação entre os grupos PD-MCI e PD-IC. O escore total da Escala de Avaliação Cognitiva da Doença de Parkinson (PD-CRS) apresentou alta correlação com o MoCA (ρ = 0,59, P < 0,001). Adicionalmente, análises de correlação parcial revelaram associações significativas entre as subescalas do PD-CRS e diversas medidas neuropsicológicas, controlando para variáveis como idade e nível educacional. Estes resultados reforçam a validade externa do PD-CRS como uma ferramenta robusta para avaliação cognitiva em pacientes com PD.
Os pacientes com PD-MCI apresentaram escores significativamente mais baixos em comparação com o grupo PD-IC nas seguintes subescalas: pontuação frontal-subcortical, memória imediata, atenção sustentada, memória de trabalho, desenho espontâneo de relógio, memória tardia, fluência verbal alternada, fluência verbal de ação e pontuação cortical posterior. A única subescala que não demonstrou diferença significativa foi "nomeação". O escore total do PD-CRS também foi significativamente menor no grupo PD-MCI, o que sugere um comprometimento cognitivo mais extenso nessa população. Todos os resultados foram ajustados para sexo, idade e nível de escolaridade.
Conclusões
Em síntese, este estudo validou com rigor a versão brasileira da Escala de Avaliação Cognitiva da Doença de Parkinson (PD-CRS) para três grupos distintos: participantes normativos sem comprometimento cognitivo, PD-IC e PD-MCI. O modelo de fator latente corroborou a unidimensionalidade do instrumento e sua validade de construto, considerando as influências da idade e do nível educacional sobre o desempenho cognitivo. Além disso, a escala mostrou-se robusta em termos de consistência interna e validade convergente, correlacionando com outros testes que avaliam funções executivas e memória verbal/visual.
A aplicação de regressões para determinar normas baseadas em variáveis sociodemográficas conferiu maior precisão e eficiência ao teste, superando abordagens tradicionais de estratificação arbitrária. A PD-CRS demonstrou eficácia discriminante na detecção de PD-MCI, com valores de corte, sensibilidade e especificidade comparáveis a estudos anteriores, mesmo que adaptados para contextos culturais diversos. Cabe salientar que o nível educacional mais elevado na nossa amostra pode explicar discrepâncias nos valores de corte em relação a outros estudos.
Por fim, em relação à aplicabilidade clínica das normas para detecção de PD-MCI, aconselha-se cautela. Os limiares estabelecidos podem ser mais aplicáveis a pacientes com características demográficas semelhantes às da nossa amostra, que predominantemente possuíam graus educacionais avançados. A implementação de equações de regressão, conforme apresentadas no link https://tuliocastro.github.io/normas-regressao/#!/table, ou o uso de normas localmente estabelecidas, pode oferecer uma análise mais acurada do estado cognitivo do paciente. Este estudo reforça a necessidade de normas ajustadas por idade e nível de educação, mantendo-se alinhado com as tendências globais na avaliação cognitiva em doenças neurodegenerativas.